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Pós Em comunicação e Cultura de Moda

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Moda é comunicação

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Tufi Duek


Por Lorena Vallone
    
    A coleção apresentada na edição verão 2014 do SPFW pelo estilista Eduardo Pombal, responsável pela marca Tufi Duek, tem como referência a obra do artista espanhol Pablo Picasso. Ao lado de Georges Braque, Picasso é um dos pilares do movimento cubista, referência para a marca nesta temporada.
   As formas minimalistas, geométricas e as linhas retas predominam na coleção. Na modelagem, baseada na alfaiataria, a marca experimenta novos comprimentos e formas. As principais cores que compõem os looks advêm do período azul de Picasso, representado pela pobreza e o desespero. Já a fase rosa retrata a paixão o circo e os dançarinos. O preto e branco são as cores base que complementam a cartela.
     As formas e volumes recorrentes são assimétricos. Os looks são compostos por muitas pregas, franjas, fendas e plissados. Estes trazem um efeito gráfico e reforçam o conceito da geometria, fonte de inspiração e referência da coleção.
   Os tecidos e materiais que serviram como matéria-prima para coleção foram: Jacquard, gabardine dupla, crepe maquinetado, crepe de seda, ráfia, linho e paetê. Alguns looks tiveram a aplicação de bordados, uma das principais tendências para o Verão 2014, vistas na semana de moda.
   A beleza das modelos foi produzida por Daniel Hernandez, e tem um flerte com os anos 90, trazendo à tona alguns elementos como o piercing.
Flávia Lafer foi quem assinou o styling e Max Blum ficou responsável pela trilha sonora do desfile.

Detalhes da coleção Tufi Duek Verão 2014 

backstage Tufi Duek Verão 2014.
Fonte: ffw.com.br

terça-feira, 16 de abril de 2013

Gareth Pugh e a força da mulher

Por Flávia Silva

Inspirado em uma tribo localizada na Ucrânia, Asgarda, Gareth Pugh trouxe para o desfile de inverno 2013/14, da Semana de moda londrina, a independência da mulher. Naquele país, elas são vitimas de tráfico de pessoas, portanto criaram essa tribo em busca da autonomia completa de homens.
Em Gareth Pugh, o poder da mulher fica claro, mas no momento em que ele acrescenta o gótico, ela adquire um aspecto fúnebre e os conceitos se encaixam perfeitamente.  As mulheres, com intuito de se protegerem, aprendem técnicas de luta e se armam. Há uma beleza por traz dessa tribo, mas também algo que desperta a tristeza, pelo fato de elas terem escolhido se “retirar” da sociedade em busca de proteção. Então, o designer ressalta não só a força da mulher, mas ao mesmo tempo transparece a sua feminilidade e necessidade de independência. Ele a vê como forte mas, também, frágil.
Pugh, assim como em seu ultimo desfile, traz nesta nova coleção uma suavidade romântica através de suas composições que exalam sentimento. Com formas leves e gráficas sua composição é divina, nas palavras do designer Rick Owens, Gareth Pugh é tecnicamente muito bom. As peças da coleção são bastante gráficas, brincam com distorções. Pouco ressalta as curvas naturais do corpo, o que eleva a personalidade da mulher e não denigre seu corpo. Ao olhar mais além, é possível associar suas peças a roupas religiosas.
A maquiagem e os cabelos das modelos aparentam ser de pessoas que estão cansadas e desgastadas, que lutam por sua emancipação e a música, aos olhos do artista compositor, é vista como a voz de uma mulher representada pelo som do violino, como se elas estivessem consumidas e querendo ser ouvidas. O estilista consegue trazer para a coleção aspectos teatrais, introduz ao universo do desfile a arte, cria uma outra realidade através dos meios que utiliza, a roupa, a maquiagem, o cabelo e a música.
No final do desfile, fica clara a posição do artista quanto a mulher representada, isso acontece quando Gareth escolhe colocar um pequeno pedaço de letra da música de Dolly Parton: “Todas as donzelas, guardai meu aviso, nunca confie nos corações dos homens, pois eles irão esmagá-los como um pardal, deixando você sem reparo. Eles vão prometer sempre te amar. Jurem nenhum amor vocês vão fazer. Pequeno pardal, pequena coisa frágil. Agora, se eu fosse um pequeno pardal por estas montanhas eu voaria, e eu o encontraria,  olhar em seu olhos mentirosos”.


Ventura nas passarelas





Por Flávia Silva

    O São Paulo Fashion Week verão 2014 contou com uma pitada de glamour da coleção de Lino Villaventura, que não só valorizou a peça em si,mas o conceiot por trás das composições. Dando asas à imaginação, o desfile de Villaventura apresentou figuras estilizadas que remetiam a épocas e momentos diferentes. O designer optou por colocar máscaras em seus modelos, nos homens ele acrescentou um bracelete,algo que trouxe a seu desfile um aspecto medieval a princípio. Mas se observamos com mais atenção é possível associar a máscara e a música escolhida pelo estilista à prisão, como se todos estivessem aprisionados por trás daquela máscara, sem escapatória, suas bocas tapadas, sem a possibilidade de comunicação verbal, ela acontece somente através dos olhos.
    Também abusou bastante de bordados e aplicações, Lino juntou ao metálico dos bordados os brilhos naturais da seda e do cetim, acrescentando a suas criações um aspecto futurístico. Isso também foi possível ver pela maquiagem, na qual o maquiador optou por salientar o centro do rosto com um iluminador, criando um efeito mágico de luz e sombra.
     O mais interessante em sua coleção foi o universo criado pelo estilista, no qual ele ligou o medieval ao universo japonês através de seus vestidos em estilo quimono. Além do mais, a maquiagem e a pintura dos dedos acarretaram uma aparência macabra, como se esse universo fosse marcado por criaturas sinistras, que através de suas máscaras e cabelos negros e compridos todos fossem vistos como os mesmos, talvez o estilista estivesse prevendo um futuro para nós.
    Lino conseguiu unir todos os meios utilizados no desfile,a música escolhida, por exemplo, foi muito prudente em relação a suas composições, o ritmo com notas curtas e sobreposições remete a texturização. No início, ela surge como algo encantado, seu universo está surgindo, quando a segunda figura entra em cena, o ritmo muda e instiga no pensamento a era medieval, com lutas e armadilhas. Dessa forma, ao longo do desfile, o som varia de acordo com o sentimento que o artista quer provocar no expectador.
    Dito pelo estilista, "A coleção viaja na imaginação, sem esforço, apenas seguindo a vontade e buscando no acervo de imagens guardado durante uma vida, dentro do pensamento do estilista". Sua obra nada mais é do que sua própria essência, ele segue sua intuição, é formado por histórias e as conta da forma que lhe convém, sua liberdade na criação é algo que nos causa inveja.


A costura do invisível


Por Lays Tavares e Nathália Wicks


Em um dos desfiles que entrou para a história do São Paulo Fashion Week, o brasileiro filho de japoneses Jum Nakao colocou na passarela um "não desfile" repleto de ativismo político cultural. Era julho de 2004 e a moda, assim como hoje, passava por momentos de questionamentos quanto a sua função e conteúdo. Assuntos como efemeridade, consumo excessivo e preocupações com a frivolidade superficial da indústria têxtil motivaram o estilista a propor uma reflexão acerca do futuro do sistema que engloba o mercado.
"A costura do invisível" apresenta uma coleção toda feita de papel, em formas suntuosas e trabalhadas detalhadamente - volumes, texturas que remetem à rendas e brocados, e inclusões de modelos da era vitoriana. O trabalho ali era belo, mágico, delicado, resultado da mais fina e tecnológica mão de obra que a indústria têxtil poderia realizar para aquela época. Mas essa não era a mensagem que o designer queria passar. Não eram aquelas peças que iam estar nas araras na próxima temporada. Aquela beleza era perecível e durou apenas alguns minutos, como referência à própria moda, com seu caráter mutável e transitório, sendo descartada a cada estação. A referência que o criador utilizou para ilustrar esse descarte foi literalmente rasgar a sua obra, acabar com seu próprio trabalho, no momento em que as modelos destruiram furiosamente as produções resultadas de 700 horas de trabalho minuscioso.
Que moda é essa, que se desenvolve tecnologicamente e se atrofia nas ideias? Este é um questionamento que se perpetuou no cenário brasileiro após o desfile, e pertinentemente, ainda é assunto/pauta para muitas discussões. Isso prova que por mais descartáveis que fossem as peças desfiladas, a intenção era tão pertinente, que a mensagem ficou. A coleção virou um livro, rendeu assunto para palestras e exposições realizadas no Brasil e no exterior sobre o processo criativo de desenvolvimento da coleção, e fez nascer um novo Nakao, dedicado a formação e ao pensar da moda, não mais na produção efêmera. Este foi o último desfile de Jum Nakao. A moda perdeu um designer, mas ganhou um pensador. 





















segunda-feira, 15 de abril de 2013

Uma reverência a Lygia Clark


Por Paula Hubner

As linhas oblíquas de Lygia Clark invadiram a passarela da Uma. Após ver uma retrospectiva da obra da artista plástica no Itaú Cultural em São Paulo, Raquel Davidowicz decidiu se inspirar no universo concreto de Lygia para sua coleção de verão 2014.
Seu primeiro desafio foi conseguir a autorização da fundação que cuida das obras da renomada artista. Todos os croquis da coleção tiveram que passar por uma avaliação antes de serem aprovados. Em uma passarela de concreto que tinha ao fundo uma réplica da obra "A Casa é o Corpo" de 1968, as modelos entraram ao som de uma trilha composta por Caetano Veloso em homenagem a Lygia em 71.
Com uma cartela de cores concisa, como é próprio da marca, Raquel tingiu de azul cristal, azul noite, preto, carbono, off white, branco e amarelo, looks monocromáticos. Mostrou seu purismo de formas em longos vestidos, túnicas com calças,  transparências e sobreposições, criando leves assimetrias que remetiam às esculturas da série "Bichos". Essa série de esculturas em alumínio flexível que revolucionou o conceito de arte contemplativa da época por sua proposta de interatividade com o observador, serviu de referência para as modelagens, como inspiração para a única estampa da coleção e por sua grande expressividade, para os acessórios nos cabelos das modelos no desfile.  
A beleza veio com uma pele iluminada e uma boca quase apagada, nude. O destaque da maquiagem ficou por conta da sombra metálica em tons de azul, aplicada como elementos geométricos sobre as pálpebras. Em algumas modelos invadindo os limites das sobrancelhas, uma referência às obras em que Lygia ultrapassava os limites da moldura pintando-a na mesma cor que a tela.
As sandálias em couro box preto e plástico transparente e as gargantilhas rígidas em metal dourado complementaram o look da mulher minimalista e sofisticada da Uma.


  As linhas diagonais de Lygia Clark são referências para os recortes e modelagens.

Sobreposições e assimetrias tão próprios da marca remetem às composições da artista

Silhueta coluna e formas retas.

Estampa inspirada na série de esculturas "Bichos"

A série de esculturas também inspira os acessórios de cabelo e  o make do desfile.


Sandálias em couro box e plástico transparente arrematam os looks minimalistas da Uma.




O étnico e o sagrado


Por Lorena Vallone e Nathália Brunelli


A dupla halandesa Viktor & Rolf, está sempre em busca de surpreender o público com suas coleções e desfiles. No inverno de 1999 não foi diferente. Em vez de dezenas de modelos, trouxe somente uma, que se transformou em boneca russa. Assim como fazem com a moda, a dupla apresentou o processo inverso da matrioska, ou seja, a modelo foi ganhando sobreposições ao longo do desfile.
Dar vida à boneca russa não foi uma tarefa fácil.  Ao todo foram 15 looks sobrepostos que totalizaram 70 kg. Ao fim do desfile, a modelo aparenta a imagem de uma santa. Esta impressão se dá pelos elementos que compoem a imagem, como por exemplo, o terço na mão, as flores ao redor dos pés e a estrutura da modelagem do último look, que lembra um manto.
Apesar de a imagem remeter ao sagrado, a modelo transmite sensação de sufocamento. Levando em consideração essa percepção, pode-se dizer que, subjetivamente, os designers trouxeram uma reflexão sobre o consumo desenfreado que a moda produz. Atualmente, as pessoas não se satisfazem apenas com algumas peças: estão sempre em busca do novo, consumindo exaustivamente.
Sob outro aspecto, podemos classificar o desfile como sendo de substância, ou seja, apesar de ser um espetáculo, o foco não é vender os produtos, mas sim, explorar o conceito proposto. Além disso, caracteriza-se como estrutural, pois apresenta formas bem marcadas, esculturais. Esta última denominação, em conjunto com a conotação divina, reafirma o conceito da coleção que foi bem desenvolvido pela marca. 


A costura do invisível – Jum Nakao




A desconstrução da moda

Por Isadora Greiner e Thais Martinez

Em 17 de junho de 2004, o estilista Jum Nakao apresentou para uma plateia de 1.200 pessoas, um desfile repleto de efemeridade. Durante a semana de moda da São Paulo Fashion Week, o polêmico desfile representou a fragilidade do sistema da moda, desde o início do processo de criação, comercialização e até a critica ao consumo desenfreado. A coleção inspirada no século XIX foi totalmente produzida em papel vegetal, com detalhes recortados a laser e estampas com desenhos brocados. A sua produção levou mais de 700 horas de trabalho e envolveu cerca de 150 profissionais.
O conceito da coleção partiu do princípio de transformar o nada em algo visível, o que resultou o nome Costura do Invisível.  Este trabalho já percorreu museus, como o The New Dowse, na Nova Zelândia; o Museu de Arte Contemporânea do Japão; foi exposto na Fortaleza del Basso, em Florença; no MoMu, da Bélgica; no Atopos, da Grécia. Também foi reconhecido como desfile da década pelo SPFW e visto como um dos desfiles do século, segundo o Museu da Moda de Paris.
O intuito do estilista era criar uma coleção inesquecível que marcasse a memória das pessoas. Foi pensando nisso que Nakao lançou um livro e um DVD com o nome da coleção, que contou detalhadamente todas as etapas da criação. As páginas trazem ricas imagens e olhares de diferentes artistas sobre o trabalho. É contada também a trajetória da produção com depoimentos do estilista desde as primeiras reuniões, a rotina dos ateliês, o desfile e até a reação da plateia.
As modelos, uniformizadas com cabeças de boneco Playmobil e segunda pele preta, criavam um contraste com as roupas de papel brancas. A ideia apresentada enfatiza o conformismo da absorção das tendências de moda e o corpo como objeto de mero suporte. As peças foram rasgadas ao término do desfile provocando no público reações diversas do inconformismo ao êxtase.