Pesquisar este blog

Pós Em comunicação e Cultura de Moda

Pós Em comunicação e Cultura de Moda
Moda é comunicação

terça-feira, 16 de abril de 2013

A costura do invisível


Por Lays Tavares e Nathália Wicks


Em um dos desfiles que entrou para a história do São Paulo Fashion Week, o brasileiro filho de japoneses Jum Nakao colocou na passarela um "não desfile" repleto de ativismo político cultural. Era julho de 2004 e a moda, assim como hoje, passava por momentos de questionamentos quanto a sua função e conteúdo. Assuntos como efemeridade, consumo excessivo e preocupações com a frivolidade superficial da indústria têxtil motivaram o estilista a propor uma reflexão acerca do futuro do sistema que engloba o mercado.
"A costura do invisível" apresenta uma coleção toda feita de papel, em formas suntuosas e trabalhadas detalhadamente - volumes, texturas que remetem à rendas e brocados, e inclusões de modelos da era vitoriana. O trabalho ali era belo, mágico, delicado, resultado da mais fina e tecnológica mão de obra que a indústria têxtil poderia realizar para aquela época. Mas essa não era a mensagem que o designer queria passar. Não eram aquelas peças que iam estar nas araras na próxima temporada. Aquela beleza era perecível e durou apenas alguns minutos, como referência à própria moda, com seu caráter mutável e transitório, sendo descartada a cada estação. A referência que o criador utilizou para ilustrar esse descarte foi literalmente rasgar a sua obra, acabar com seu próprio trabalho, no momento em que as modelos destruiram furiosamente as produções resultadas de 700 horas de trabalho minuscioso.
Que moda é essa, que se desenvolve tecnologicamente e se atrofia nas ideias? Este é um questionamento que se perpetuou no cenário brasileiro após o desfile, e pertinentemente, ainda é assunto/pauta para muitas discussões. Isso prova que por mais descartáveis que fossem as peças desfiladas, a intenção era tão pertinente, que a mensagem ficou. A coleção virou um livro, rendeu assunto para palestras e exposições realizadas no Brasil e no exterior sobre o processo criativo de desenvolvimento da coleção, e fez nascer um novo Nakao, dedicado a formação e ao pensar da moda, não mais na produção efêmera. Este foi o último desfile de Jum Nakao. A moda perdeu um designer, mas ganhou um pensador. 





















Nenhum comentário:

Postar um comentário